A maioria das empresas que aposta em inteligência artificial para lidar com os clientes ainda não entendeu uma coisa simples: o problema não é o algoritmo, é a falta de coerência.
Não adianta investir em automação, personalização ou escalar atendimento com assistentes digitais se, por trás disso, a cultura da empresa é frágil, desconectada ou incoerente com o que a marca promete. O cliente percebe. E quando percebe, vai embora.
A fidelidade hoje não nasce de um desconto, de um brinde ou de um fluxo bem desenhado. Ela nasce de algo mais invisível: da sensação de que existe um “nós” verdadeiro por trás da tela. De que a empresa sabe quem é, vive o que diz, e cuida do vínculo com o cliente com o mesmo cuidado que cuida da sua cultura interna.
Essa ideia foi o ponto de partida de um estudo que escrevi sobre o papel dos líderes nesse novo cenário. Em vez de tratar a IA como um salvador de processos, olhei para o outro lado da equação: o lado de dentro. O que define se uma experiência automatizada vai gerar confiança ou frustração não é a tecnologia em si. É o que a cultura da empresa ensina ao algoritmo.
Quando líderes internos exercem o papel de guardiões da identidade do grupo, quando garantem que a cultura não seja apenas uma frase na parede, mas algo vivido de verdade, isso transborda. Nas decisões do dia a dia. Nas interfaces com o cliente. Nos pequenos detalhes que fazem uma marca ser percebida como coerente, confiável e legítima, mesmo quando quem atende é um robô.
Chamei isso de Ciclo da Coerência Identitária. Um modelo que começa com a liderança, passa pela cultura, se expressa na marca e chega ao cliente por meio dos canais, inclusive os digitais. Se alguma dessas camadas falha, o vínculo enfraquece. Se elas se alinham, a fidelidade cresce. Não por obrigação, mas por identificação.
Marcas como Natura, Nubank e Patagonia mostraram que é possível fazer isso. Não são perfeitas, mas cuidam da coerência como um ativo. E isso faz diferença.
A grande provocação é simples: o seu cliente sente orgulho de pertencer à sua marca? E, mais importante ainda, seus colaboradores sentem orgulho de trabalhar nela?
Se a resposta for não, talvez não seja a IA que precise de revisão. Talvez seja o jeito como a liderança vem sustentando (ou não) o “nós” coletivo que deveria dar sentido à tecnologia.